sexta-feira, 16 de maio de 2008

Um rolê na tarde de Brasíla

Avenidas largas... Entre estas residências entre espaços arborizados. No horizonte amplo do espaço do Cerrado, flutuam nuvens carregadas de chuvas no azul do céu da tarde de Brasília. Árvores retorcidas se intercalam entre espaços determinados pelas medidas estéticas do paisagismo urbano. A cada avanço dos passos, vejo mais carros que pessoas circulando. No ponto de ônibus, pessoas esperam sentadas o ônibus. Túneis conjugam-se com avenidas e monumentos espalhados. Nessa época de maio o cenário é verde e o tempo úmido. Sigo andando sentido contra-vento, rumo sul, rumo norte, não sei! Mas sei que ando somente para sentir a brisa fresca bater em meu rosto. Diante do sol poente, vejo um fundo colorido de cores quentes e uma árvore retorcida que faz sombra a sua luz.

Uma visão da Floresta Amazônica do avião

A Floresta Amazônica, vista do avião, é um extenso tapete verde entrecortado por sinuosos rios. Acima das nuvens, o avião movido pelas forças das turbinas, rompe o espaço onde o meu destino não há estradas que chegue. A estrada é o rio Solimões. As nuvens, que parecem pedaços de algodão, flutuam sobre o extenso tapete verde. Os rios visto de cima, parecem veias, vênulas, artérias e arteríolas de nossos vasos sanguíneos. Olhando o horizonte me perco na paisagem, que aos meus olhos parecem uma massa única. O céu em várias tonalidades de azul compõe o cenário do meio dia. Nessa uniformidade aparente nada é igual quando visto de perto. Acima das nuvens as sombras refletem suas formas no tapete verde da Floresta Amazônica. Quando criança, acredita que os anjos viviam sobre as nuvens. Hoje, sabendo que estas entidades não existem nestes lugares, o meu olhar ainda se prende a tentar encontrá-los...

quarta-feira, 14 de maio de 2008

O treinamento de levantamento de peso olímpico no esporte

A participação indígena no Pan

Uma breve história de minha trajetória pessoal

Minha trajetória de vida se relaciona com três temas que estabeleceram as bases de minha atuação social e que não podem ser entendidos separados um do outro: esporte, povos indígenas e meio ambiente. Tudo começou através do judô, modalidade esportiva que me trouxe desenvolvimento pessoal e ampliou meus horizontes. Nesta modalidade figurei no cenário nacional entre os anos de 1.995 a 2.002 competindo pelo Esporte Clube Pinheiros. Neste tempo também pratiquei levantamento de peso olímpico pelo mesmo clube entre 1996 a 2007. O judô me ensinou valores pelos quais me oriento, de fortalecimento integral do corpo e mente (espírito), que são baseados em três princípios: 1) Princípio da Máxima Eficácia do Corpo e do Espírito (Seiryoku Zen’yo), que significa capacidade de integrar a energia do corpo e do espírito; 2) Princípio da Prosperidade e Benefícios Mútuos (Jita Kyoei), que promove a solidariedade para o benefício individual e coletivo; 3) Princípio da Suavidade (Ju), que ensina que as adversidades da vida devem ser enfrentadas com flexibilidade.

Em 1.995 me preparei para o vestibular da FUVEST para ingressar na Escola de Educação Física e Esporte da USP no curso de esporte. Ingressei em 1.996 e me formei em 2.002. Durante a universidade me interessei pela cultura corporal de movimento em 2.001 a partir de observações sobre os Jogos dos Povos Indígenas, realizados em Campo Grande (MS). Neste mesmo ano promovi uma exposição fotográfica e mesa redonda com o tema “Jogos Indígenas e Cultura Brasileira” na Escola de Educação Física e Esporte da USP, até então nunca abordado, que resultou num trabalho temático apresentado na 1ª Conferência dos Países Esportivos, em Barcelona, em abril de 2.003.

Em 2.002, passei me interessar pela questão ambiental, desenvolvi o projeto “Corpo, Saúde e Meio Ambiente” junto a Associação Xavante Warã que possibilitou a presença indígena, e a prefeitura da USP que possibilitou diálogos com a reitoria. Em 2.003 foi aprovada a realização da 1ª Semana de Meio Ambiente “Corpo, Saúde e Meio Ambiente”. A programação promoveu diálogos entre a visão indígena e a acadêmica, e se concretizou por meio de debates realizados no Instituto de Biologia (IB-USP); Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF-USP) e Escola de Educação Física e Esporte (EEFE-USP). Participaram docentes, estudantes, funcionários, segmentos ambientais do terceiro setor e autoridades científicas renomadas como o professor Paulo Nogueira Neto, homenageado nesta ocasião. No dia 05 de junho de 2.003, Dia Internacional do Meio Ambiente, promovi a tradicional corrida de toras de buriti no campus da USP que teve boa repercussão nos meios de comunicação, superando as expectativas dos realizadores e apoiadores. Neste ano escrevi o projeto “Análise da Cultura Corporal de Movimento nos VI Jogos dos Povos Indígenas” apresentado ao Fundo de Cultura e Extensão Universitária da USP, que financiou este projeto do qual fui o coordenador. Como decorrência desta repercussão, a reitoria da USP me apoiou na realização da Semana de Meio Ambiente para 2.004.

A da 2a Semana de Meio Ambiente, intitulada “O Ambiente por Inteiro”, somou-se às comemorações dos “70 Anos da USP” e “450 Anos de São Paulo” e ganhou substância na organização com a incorporação da Comissão de Estudos de Problemas ambientais da USP (CEPA-USP) e da Fundação Alphaville. Promoveu mesas redondas com a presença de representantes do governo federal, estadual e municipal; sociedade civil organizada, cientistas, autoridades de notório saber, lideranças indígenas e de comunidades tradicionais; oficinas de reciclagem e apresentações culturais. Neste cenário, organizei a corrida de toras de buriti entre Xavante e Krahô na Avenida Paulista, que trouxe a atenção da mídia para o bioma Cerrado, que além de não estar incluso no artigo 225 da Constituição Federal como patrimônio ambiental brasileiro sofre intensa devastação e ameaça a sobrevivência física e cultural das comunidades indígenas. Esta ação teve grande repercussão e foi eleita pelo Instituto Socioambiental, organização ambiental, como o gesto simbólico mais marcante do período de 2.001 a 2.005, sendo a foto da corrida a capa do livro.

A ação seguiu em Brasília (DF) compondo o evento “Grito do Cerrado” com a corrida de toras realizada no trecho da Esplanada dos Ministérios até o Congresso Nacional. Nesta corrida as toras foram depositadas na mesa da Presidência do Senado como ato pela inclusão do Cerrado no artigo 225 da Constituição Federal, possibilitando audiência entre representantes indígenas com a ministra Marina Silva e sua equipe para a apresentação do projeto “Uso Sustentável do Cerrado”. Diante deste universo que se abria para mim, me vi envolvido na organização da III Semana de Meio Ambiente em 2.005 que novamente contou com o apoio indígena nas atividades. Neste ano a corrida de toras aconteceu na Avenida Rubem Berta e 23 de Maio no dia 11 de setembro, Dia Nacional do Cerrado. Promovi a doação das toras desta corrida, com o apoio do deputado estadual Adriano Diogo (PT-SP), para o Museu Orlando Vilas Boas da Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo como “Ato em Defesa do Cerrado”.

Em 2.006, com a proximidade dos Jogos Pan-americanos do Rio de Janeiro, desenvolvi o projeto “Corrida de Toras no Pan Rio 2.007” que envolvia a participação de representantes de sete etnias praticantes (Xavante, Xerente, Krahô, Canela, Krikatí, Apinajé e Gavião). O objetivo fora promover a cultura corporal dos povos indígenas. Obtive apoio da reitoria da USP, da Escola de Educação Física e Esporte da USP, da Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo, da Secretaria Municipal de Esporte, que foram encaminhadas ao ministro Agnelo Queiroz. Houve interesse do Ministério do Desenvolvimento Social, porém, devido à mudança de ministro e da dificuldade de articulação com as organizações indígenas, o projeto não se consolidou.

Atualmente, junto ao Instituto das Tradições Indígenas (IDETI), venho colaborando no desenvolvimento de projetos que promovam o protagonismo e empoderamento indígena à questão esportiva, cultura corporal de movimento e meio ambiente. Junto a FUNAI venho colaborando no desenvolvimento de projetos de esporte com as comunidades indígenas. Junto a USP, sou professor convidado para palestrar sobre esporte com povos indígenas.

Projetos de esporte e de cultura corporal de movimento com os povos indígenas

Projetos de esporte e cultura corporal de movimento se apresentam como ferramentas para atuar com problemas de saúde associados ao modo de vida sedentária e a mudança de hábitos alimentares. Estes problemas, apontados por pesquisas da Fundação Nacional de Saúde (FUNASA) e Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz) com populações indígenas, diagnosticaram casos de obesidade, diabete melitus tipo II, hipertensão arterial e doenças crônico-degenerativas com índices superiores a de outras populações humanas. O consumo de álcool aparece como o mais preocupante por estar associado a casos de brigas e homicídios. Há registros de suicídio, estupro e prostituição. De acordo com os dados apresentados pela Intervenção Nacional de Promoção de Direitos da Juventude Indígena (CGE/FUNAI), realizada pela FUNAI no período de 2.004-2.005 nas quatro regiões brasileiras, que consultou mais de 5.000 jovens e anciãos de 71 etnias, aponta o esporte entre as demandas da juventude indígena. Recentemente, na 1ª Conferência Nacional de Juventude, realizada em Brasília entre os dias 27 a 30 de abril de 2.008, políticas de esporte foram apontadas entre as demandas da juventude. Neste contexto, a juventude indígena se soma ao desejo de programas de esporte em suas comunidades. A Constituição de 1.988 garantiu aos povos indígenas o direito às suas formas próprias de organização social, línguas, crenças e tradições. No caso da educação física, implantada no Brasil a partir de 1.946, fundamentou-se ao longo se sua história na concepção eurocêntrica do movimento humano. Acreditava-se que os indígenas deram pouca contribuição à educação física, pois, sua cultura corporal de movimento não foi absorvida pelos colonizadores, que os consideravam fracos por não se adaptarem ao trabalho escravo. Com a criação do Conselho Federal de Educação Física (CONFEF) pela lei de nº 9.696 de 1.998, reconhece a prática de atividade física como direito do cidadão, que deve promover a saúde e a qualidade de vida independentemente das condições físicas, econômicas, morais, sociais, culturais, religiosas e étnicas. A cultura corporal de movimento dos povos indígenas é patrimônio cultural brasileiro e o esporte um direito garantido a todos os cidadãos. No entanto, há poucas políticas públicas de esporte e cultura voltadas à juventude indígena quando comparada a outros jovens brasileiros. No contexto global o Comitê Olímpico Internacional (COI) se associou ao Conselho das Nações Unidas para Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD) na elaboração da Agenda 21 Olímpica em 1.999. Este documento contempla a juventude e as comunidades indígenas e define seus papéis na promoção do “espírito olímpico” e na defesa do meio ambiente. No tópico 3.3.2 trata sobre “A Promoção do Jovem” e no tópico 3.3.3 trata sobre “O Reconhecimento e a Promoção das Populações Indígenas”. Embora a Agenda 21 Olímpica tenha sido elaborada no Brasil, não se constata a presença do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) no cumprimento das determinações referente às populações indígenas. Com a criação dos Jogos dos Povos Indígenas em 1.996, a sociedade nacional passou a conhecer parte da cultura corporal de movimento dos povos indígenas do Brasil, porém, não resultou em programas de esporte ou em parcerias com as universidades e instituições do esporte, de modo que despertasse o interesse destes profissionais junto às comunidades. A cultura corporal de movimento dos povos indígenas é ainda pouco abordada nos cursos de educação física, esporte e dança de nosso país. Essa lacuna impossibilita a formação de um profissional preparado para atender aos anseios das comunidades.