quarta-feira, 14 de maio de 2008

Uma breve história de minha trajetória pessoal

Minha trajetória de vida se relaciona com três temas que estabeleceram as bases de minha atuação social e que não podem ser entendidos separados um do outro: esporte, povos indígenas e meio ambiente. Tudo começou através do judô, modalidade esportiva que me trouxe desenvolvimento pessoal e ampliou meus horizontes. Nesta modalidade figurei no cenário nacional entre os anos de 1.995 a 2.002 competindo pelo Esporte Clube Pinheiros. Neste tempo também pratiquei levantamento de peso olímpico pelo mesmo clube entre 1996 a 2007. O judô me ensinou valores pelos quais me oriento, de fortalecimento integral do corpo e mente (espírito), que são baseados em três princípios: 1) Princípio da Máxima Eficácia do Corpo e do Espírito (Seiryoku Zen’yo), que significa capacidade de integrar a energia do corpo e do espírito; 2) Princípio da Prosperidade e Benefícios Mútuos (Jita Kyoei), que promove a solidariedade para o benefício individual e coletivo; 3) Princípio da Suavidade (Ju), que ensina que as adversidades da vida devem ser enfrentadas com flexibilidade.

Em 1.995 me preparei para o vestibular da FUVEST para ingressar na Escola de Educação Física e Esporte da USP no curso de esporte. Ingressei em 1.996 e me formei em 2.002. Durante a universidade me interessei pela cultura corporal de movimento em 2.001 a partir de observações sobre os Jogos dos Povos Indígenas, realizados em Campo Grande (MS). Neste mesmo ano promovi uma exposição fotográfica e mesa redonda com o tema “Jogos Indígenas e Cultura Brasileira” na Escola de Educação Física e Esporte da USP, até então nunca abordado, que resultou num trabalho temático apresentado na 1ª Conferência dos Países Esportivos, em Barcelona, em abril de 2.003.

Em 2.002, passei me interessar pela questão ambiental, desenvolvi o projeto “Corpo, Saúde e Meio Ambiente” junto a Associação Xavante Warã que possibilitou a presença indígena, e a prefeitura da USP que possibilitou diálogos com a reitoria. Em 2.003 foi aprovada a realização da 1ª Semana de Meio Ambiente “Corpo, Saúde e Meio Ambiente”. A programação promoveu diálogos entre a visão indígena e a acadêmica, e se concretizou por meio de debates realizados no Instituto de Biologia (IB-USP); Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF-USP) e Escola de Educação Física e Esporte (EEFE-USP). Participaram docentes, estudantes, funcionários, segmentos ambientais do terceiro setor e autoridades científicas renomadas como o professor Paulo Nogueira Neto, homenageado nesta ocasião. No dia 05 de junho de 2.003, Dia Internacional do Meio Ambiente, promovi a tradicional corrida de toras de buriti no campus da USP que teve boa repercussão nos meios de comunicação, superando as expectativas dos realizadores e apoiadores. Neste ano escrevi o projeto “Análise da Cultura Corporal de Movimento nos VI Jogos dos Povos Indígenas” apresentado ao Fundo de Cultura e Extensão Universitária da USP, que financiou este projeto do qual fui o coordenador. Como decorrência desta repercussão, a reitoria da USP me apoiou na realização da Semana de Meio Ambiente para 2.004.

A da 2a Semana de Meio Ambiente, intitulada “O Ambiente por Inteiro”, somou-se às comemorações dos “70 Anos da USP” e “450 Anos de São Paulo” e ganhou substância na organização com a incorporação da Comissão de Estudos de Problemas ambientais da USP (CEPA-USP) e da Fundação Alphaville. Promoveu mesas redondas com a presença de representantes do governo federal, estadual e municipal; sociedade civil organizada, cientistas, autoridades de notório saber, lideranças indígenas e de comunidades tradicionais; oficinas de reciclagem e apresentações culturais. Neste cenário, organizei a corrida de toras de buriti entre Xavante e Krahô na Avenida Paulista, que trouxe a atenção da mídia para o bioma Cerrado, que além de não estar incluso no artigo 225 da Constituição Federal como patrimônio ambiental brasileiro sofre intensa devastação e ameaça a sobrevivência física e cultural das comunidades indígenas. Esta ação teve grande repercussão e foi eleita pelo Instituto Socioambiental, organização ambiental, como o gesto simbólico mais marcante do período de 2.001 a 2.005, sendo a foto da corrida a capa do livro.

A ação seguiu em Brasília (DF) compondo o evento “Grito do Cerrado” com a corrida de toras realizada no trecho da Esplanada dos Ministérios até o Congresso Nacional. Nesta corrida as toras foram depositadas na mesa da Presidência do Senado como ato pela inclusão do Cerrado no artigo 225 da Constituição Federal, possibilitando audiência entre representantes indígenas com a ministra Marina Silva e sua equipe para a apresentação do projeto “Uso Sustentável do Cerrado”. Diante deste universo que se abria para mim, me vi envolvido na organização da III Semana de Meio Ambiente em 2.005 que novamente contou com o apoio indígena nas atividades. Neste ano a corrida de toras aconteceu na Avenida Rubem Berta e 23 de Maio no dia 11 de setembro, Dia Nacional do Cerrado. Promovi a doação das toras desta corrida, com o apoio do deputado estadual Adriano Diogo (PT-SP), para o Museu Orlando Vilas Boas da Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo como “Ato em Defesa do Cerrado”.

Em 2.006, com a proximidade dos Jogos Pan-americanos do Rio de Janeiro, desenvolvi o projeto “Corrida de Toras no Pan Rio 2.007” que envolvia a participação de representantes de sete etnias praticantes (Xavante, Xerente, Krahô, Canela, Krikatí, Apinajé e Gavião). O objetivo fora promover a cultura corporal dos povos indígenas. Obtive apoio da reitoria da USP, da Escola de Educação Física e Esporte da USP, da Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo, da Secretaria Municipal de Esporte, que foram encaminhadas ao ministro Agnelo Queiroz. Houve interesse do Ministério do Desenvolvimento Social, porém, devido à mudança de ministro e da dificuldade de articulação com as organizações indígenas, o projeto não se consolidou.

Atualmente, junto ao Instituto das Tradições Indígenas (IDETI), venho colaborando no desenvolvimento de projetos que promovam o protagonismo e empoderamento indígena à questão esportiva, cultura corporal de movimento e meio ambiente. Junto a FUNAI venho colaborando no desenvolvimento de projetos de esporte com as comunidades indígenas. Junto a USP, sou professor convidado para palestrar sobre esporte com povos indígenas.

Nenhum comentário: